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Uma Janela para o Cérebro

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Uma Janela para o Cérebro


Quando um oftalmologista examina o fundo do olho de um paciente ele está vendo ao vivo e em cores uma parte muito bem protegida do nosso corpo, o cérebro. A nossa visão começa com a captação das imagens que vemos por células especiais chamadas fotorreceptores. Quando a luz as atinge desencadeia uma cascata de reações químicas que fará com que este estímulo se transforme em impulsos elétricos que viajarão pelas fibras nervosas. Estas fibras, que são como fios elétricos, se conectam com os fotorreceptores e conduzem estas informações até o cérebro, mais precisamente para o lobo occipital, que fica na porção mais posterior do cérebro, onde as informações recebidas serão interpretadas, analisadas e comparadas com o que já temos armazenado, e somente após tudo isso, que ocorre em milionésimos de segundo, é que realmente vemos.

Quando examinadas, as fibras nervosas presentes na retina podem nos dar sinais do que está acontecendo com o cérebro, e dependendo do exame, podemos precisar com uma certa segurança, a região afetada. Um problema extremamente sério e que pode ser diagnosticado no exame do fundo de olho é o papiledema, que é o inchaço da papila, região por onde as fibras saem do olho para se dirigirem ao cérebro, devido ao aumento da pressão dentro da cabeça, podendo levar a morte se não tratado adequadamente. Como o cérebro está contido dentro do crânio, não há como aliviar esta tensão, assim o nervo óptico recebe esta pressão e o resultado pode ser avaliado pelo exame oftalmológico.

Outras doenças podem afetar as fibras da via óptica em virtude do longo trajeto que percorrem. Logo após sair da órbita, local onde os olhos e seus músculos estão localizados, o nervo óptico perde a sua proteção e entra no crânio. Passa próximo a hipófise, parte do cérebro responsável pela produção de diversos hormônios que fazer nosso corpo funcionar adequadamente. Tumores nesta região afetam a visão de diversas maneiras, dependendo do tamanho e da parte da via óptica comprometida. Podem ser benignos, como o adenoma e o craniofaringioma, ou malignos, podendo ser locais ou de outras partes do organismo. Geralmente não são diagnosticados por visualização direta do nervo óptico, a não ser que já comprometam as fibras por um longo período. Um exame que mede a funcionalidade das fibras, chamado campimetria computadorizada, pode fornecer informações importantes sobre o local e a intensidade do comprometimento.

Outras formas de compressão podem afetar os neurônios responsáveis pela visão. Aneurismas, que são dilatações anormais dos vasos, podem comprimir e provocar o aparecimento de sintomas. Outros tumores também podem comprometer as fibras nervosas em seu trajeto até o lobo occipital, assim como acidentes vasculares, conhecidos como derrames, provocando alterações temporárias ou até mesmo definitivas. Além do comprometimento direto da visão, pode ocorrer alterações no formato das pupilas, atrofia de áreas específicas do nervo óptico, alteração na posição dos olhos, visão dupla ou borrada, ou até mesmo incapacidade de interpretar o que está vendo. Exames como a tomografia computadorizada e a ressonância magnética auxiliam no diagnóstico.

Conforme comentei no último artigo, meu pai foi acometido por um craniofaringioma e infelizmente faleceu na semana seguinte ao dia dos pais. Gostaria de agradecer as mensagens de apoio e as orações dedicadas a ele, a quem dedico este artigo.

 

Dr. Marco Antonio Olyntho
CREMESP 92737
Médico Oftalmologista pela Associação Médica Brasileira e Conselho Brasileiro de Oftalmologia
Especialista em Glaucoma pelo Hospital das Clínicas - Universidade de São Paulo
Membro da American Academy of Ophthalmology

marco@olyntho.med.br
www.olyntho.med.br
São José do Rio Preto - SP

Autor

Dr Marco Antonio de Castro Olyntho Junior

Dr Marco Antonio de Castro Olyntho Junior

Oftalmologista

Especialização em Ciências da Visão Patologia Clínica e Cirúrgica no(a) Instituto Internacional de Ciências Sociais.